Conteúdos não expressados nunca morrem. São enterrados vivos e depois retornam de formas piores.
Ao optarmos por silenciar questões que nos afligem e não falar sobre o que nos incomoda, o não-dito pode ressurgir, transformado em sintomas.
A psicanálise dedica-se ao sujeito muitas vezes negligenciado pela ciência, concentrando-se no que escapa à percepção do médico. Não nos aprofundamos em medições sanguíneas, radiografias ou diagnósticos. Ao invés disso, ouvimos o que o sujeito tem a relatar sobre seu corpo, sobre aquilo que se encontra “perturbado” por uma enfermidade desafiadora para os tratamentos convencionais. São doenças que frequentemente não possuem uma causa específica identificada pela medicina.
Arte por Maykel Lima
Então, o que acontece com o que não é dito?
Essa é uma questão fundamental no processo de psicoterapia. Muitas pessoas chegam na clínica acreditando que todos os seus problemas surgiram atualmente, no trabalho, num relacionamento, na família, etc.
Portanto, é comum tratar os sintomas físicos como dores corporais, problemas de pele, insônia, ansiedade e dores de cabeça sem investigar profundamente suas origens.
Por meio da fala, torna-se possível estabelecer novas conexões com conteúdos reprimidos que estão contribuindo para os sintomas atuais.
O simples ato de falar sobre nós mesmos — nossos sentimentos, pensamentos, desejos, medos e até mesmo conflitos internos — pode reduzir significativamente o sofrimento e ajudar a diminuir os sintomas físicos.
Assim, é possível investigar e elaborar algo que ainda parece nebuloso; aos poucos, é possível desatar alguns nós.
O método psicanalítico busca explorar as raízes inconscientes dos pensamentos, emoções e comportamentos. Por meio do processo terapêutico, auxilia-se na compreensão de como experiências passadas, traumas e conteúdos reprimidos podem influenciar as emoções, comportamentos e sintomas físicos do indivíduo.
“(…)o dito tem valor enquanto palavra que funda o fato e faz registrar a história” (Fochesatto, 2011).
Fochesatto, W. P. F. (2011). A cura pela fala. Estudos de Psicanálise, (36), 165–171.
Sara Cristina Chiamolera
Psicanalista; Atendimentos on-line
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